Vai embora 2005!
O ano de Áquila veio e já foi, o sete de ouros já se cumpriu, e agora eu tenho os macetes para ser feliz, não precisei devorar fezes de diabo nenhum, porém tive que andar com muitos deles, mas a história se fez também com muitas ilhas de vitória, num ano que minha vida mudou completamente, finalmente estou longe das coisas que tanto me perturbaram, e pronto para perturbar muita gente, hehehehe, de um jeito bom e malvado.

Cuide-se 2006, eu sou seu amigo e não seu coração, aprendi com os anjos que lambusam a gente de sangue, que as presas do sonhos são ferozes e as garras dos vitoriosos são feitas de espelhos. Em minha adoração pelo potencial vejo refletido minha vaidosa espiritualidade canina, eu sei agora, e vou cumprir o combinado, a ti, meu novo e lindo ano, um feliz Gustavo.
21:57





  Lástimas e seus Apêndices  
Para um tempo que se foi um pedido de retorno, ou então, uma exigência de silêncios, eu não sei o que grita mais, se o medo de pensar nele ou no de esquecer para sempre. O preço é muito alto para irmos com um sonho, requisitar silêncios nos lábios de nosso destino é um desespero agudo pelo sufocante fim.

Para os últimos segundos contigo em meu tórax eu reservo o caminhar sem volta, mas o desenho de sua ida rasga o horizonte me convidando a te descobrir em cada nova coisa, as portas e os cadeados no passado, as janelas e as nuvens cinzas, o medo de ser somente o prêmio: a tua chegada, são todos esses, elementos de um ser que nunca esteve aqui, esse meu eu faltante, que por hoje saber da resignação aliviante, te achas nos apêndices de meus primeiros caminhos, mas não únicos, como antes inocentemente via seus lábios.
11:58





  Só para Destruir.  
Minha missão nessa porcaria de planeta é destruir tudo o que eu tocar, não é tão difícil, para falar a verdade, é até convidativo, eu preciso matar pessoas, danificar equipamentos, corromper os códigos morais, atrapalhar a felicidade, drenar o sangue dos fracos, e claro, paparicar os melhores.

Destruir-me é minha missão, não passe pelo meu caminho.

15:26





A Casa dos Tristes
Eu retornei hoje dos dias metafóricos viajados dentro de mim.

Foram cinco etapas simples para destruir de vez a desvalorização contínua que tanto me perturbou esse ano.

Sair desse lugar não me trouxe felicidade, e mesmo agora, não a sinto perto de mim.

Eu estou bem como estou, livre das antigas conceituações e valores, essas que estavam em nome de uma vaidade espiritual ridícula que é a abnegação do mundo, um grande desespero nascido na impotência de orquestrar o destino, e posso entender os diversos discursos e súplicas decorrentes dessa fé.

Os próximos passeios serão ao redor da casa dos tristes, um lugar comum para todo vencedor que vê o tempo rotacionando o mesmo troféu para sempre, a fazer saber seu dignatário sobre cada detalhe da vitória no ícone frio de uma peça só, tão representativa quando uma lembrança idealizada, que antes ou depois da empreitada parece ter o mesmo efeito ou valor, nos pedindo que mais e mais venhamos a abandonar as residências dos não realizados, ou a dos que se devotam a um único fim.
00:25





Das Galerias.(parte V)
E eis que do outro lado da porta eu vi o significado da chave.

Deitaram em meu caminho muitas pessoas que não puderam ser ordenadas padres, ou feiticeiras, vi no subir de uma escada velha e corroída o altar de muitos desgraçados, tocando tristes suas histórias quando passavam os dedos de sua consciência nas harpas de seus arrependimentos, e o som era perturbador pelo convite silencioso à dança.

Mas eu fui, a cadência para mim era outra, nos confins dos meus ouvidos eu sentia o tambor dentro do meu peito, acompanhando dos violinos afiados que se diziam loucos, em cada nota cifrada desesperavam-se em um grito para que eu continuasse a caminhada.

O fogo azul do candeiro eu peguei com a mão, ainda subindo entre os cadáveres de tentativas, e tentadores eles pareciam precisar mais da minha celeste chama do que eu, e chamavam, sim com os olhos infernais de quem não tinha encontrado a chave, eu vi, e pelos olhos do tempo perdido eu passei.

Coloquei na lapela de meu paletó simples o fogo de quem cruza os lagos da mortificação, como deve ser a alma de quem tem a chave dos caminhos, eu me senti o céu. Fui tornando-me ele, e aos poucos eu abracei todas as rotas possíveis no mundo, e vi do alto os cinco castelos, a chave está em minha mão, e de cada janela, de cada torre, de cada fortaleza, todos os tristes deitados no caminho por onde passo, vêem por elas eu como um camaleão, colorido e disfarçado para não ser presa de suas invejas, usando o brilho da esperança para esquentar meu sangue, e o céu para voar distante e apaixonado.

No caminho ficou quem não sabe subir até onde qualquer coisa se torna azul.

Convidados por mim a não ser mais minhas galerias.
20:48





Das Galerias.(Parte IV)
Sagrados doze budas estavam internos à poça negra que tomava os horizontes da sala circular, eu ousei meus primeiros passos para dentro do líquido devorador e um frio cristalizante foi insensibilizando minhas carnes, e mesmo assim eu continuava, jogando para o alto as minhas mãos e o candeiro, o fogo iluminava bem o teto lodoso do recinto, e quando estive lado a lado com um dos rostos sorrindentes de uma das imensas estátuas, eu senti seu olhar cego para dentro de mim, e isso vi:

Cinco castelos construídos com os metais preciosos roubados um a um dos alquímicos mundos dos magos viajantes, em cada caravana, quando se olhava para o céu eles perdiam um pouco do pó metálico que traziam dos orientes de seus mapas, e eu vi, bem de perto o vento levantar as partículas negras e vermelhas dos sacos de pano velho, e melindroso vir até os montes secos entregarem aos serviços dos camaleões e serpentes, o material para a Obra em Mim. Vi palácios de ouro e prata nos olhos dos répteis, vi também espelhos e luz na ocular de cada feiticeiro que perscrutava as estrelas, vi e enxerguei profundamente os brilhos, nos olhos dos que perdem, nos olhos dos que roubam, e nos meus, os ganhadores, A Obra.

E era de metal.

Pesado ficou meu coração, e por um correr de segundo, me tornei o fundo do recinto, frio e molhado, eu senti a cama da morte quando o brilho da moeda me pareceu injusto, e vi de novo o caminhar da caravana, o pó se esvaindo com o vento, e os répteis dizendo-se em trabalhos necessários. Mas não vi a mim, nesta Obra, fiquei solitário na estrela.

Pela ocular dos alquimistas, eu segui viagem, o candeiro me avisou que a caminhada prosseguia, uma lágrima negra não me venceria, então fui, dentro do manto novo da valorização, dentro dos olhos mágicos de quem busca o fogo, longe do abraço mentiroso, esse clamor dos budas ao nada, eu passei pelas águas da morte em vida, e segui até o outro lado da sala, onde haviam cinco castelos desenhados na parede, iluminados por uma chama que se tornara azul ainda em minhas mãos.

Há um pedestal ao lado da porta final, e sobre ele um camaleão de pedra com uma chave na boca.

Mas tal como a porta de entrada, a de saída não tinha fechadura.

Doze são os budas chorosos dentro de uma lágrima negra, de costas às portas de um reino quintuplo castelar. O que destranca a chave?
15:56





  Das Galerias. (Parte III)  
E diante da porta eu me antevi, sim, entendi o que significava o "N", um prenúncio de muitas tristezas que se dariam pela vontade de não sofrer.

Fechei meus olhos antes de transpassá-la, e um céu azul claro me envoltou completamente, eu não quis me mexer para justamente não cair, era um abismo celeste cheio de nuvens distantes e um vento carinhoso, com um sol que parecia vir de todos os lugares.

Ao abrir os olhos retorno tonto para a escuridão desafiada por duas ou três chamas ingênuas na tocha que eu carregava, e elas iluminam uma porta sem fechaduras, que na aproximação causada por meus passos cautelosos põe-se a abrir. E de dentro sopra um cheiro terrível como se mil florestas morressem afogadas num mar de lágrimas.

Na soleira da porta me contive, pois vi o perfume em realidades de pedra, eram imensas estátuas de budas, todos chorosos, ainda que sorrindo numa alegria cega, escura sala que não permitia num primeiro instante ver o chão como era, e este, uma grande piscina de desgraças, um lago negro cobrindo os sufocados corações dos Sagrados, que não tinha mais seus peitos expostos de tanto chorar até aos lábios beberem o sangue de seus desejos depostos, e assim no negro abismo que se sucede eu tombei para a frente meus sonhos, e como se uma gigantesca montanha fosse lançada às nuvens, eu varei no infinito do vazio um engasgo espiritual sem tamanho, deixando mergulhar pelas fendas da desvalorização os meus mais preciosos tijolos de fé e angústias, pedras que edificam a coragem como também bombardeiam as fortalezas da natureza humana, e assim derramei dos meus olhos amedrontados no pântano do desvalor a minha graça pelo mundo, como quem atira sem saber o custo, moedas de ouro procurando satisfações numa fonte contraditória de desapegos.

Meus passos param?
17:18