Uma paixão mal resolvida...
E foi assim que desceu do céu, as gotas de orvalho por todo o deserto, espelhando uma a uma os azuis de teu pai, e o dourado de teus destinos, o fim foi o chão quieto, fervente, a verdade incandescente, e assim são todas as paixões, uma lágrima de paraísos desejosa de um beijo ardente. E fui ao caminho dos camelos, sentindo o peito profundo dessa verdade, embebi-me do tempo de desejar ser novo pendente do céu, e chorar de novo, por novos beijos, e carente vou ao fogo dos horizontes, saindo de mim, descendo do céu, para falar comigo do sonho e do suspiro, tentando levar de novo às constelações de sonhos do firmamento, uma razão para dizer que toda paixão mal resolvida é como é uma boa paixão, e ponho-me nela, agora novo, como se nascesse do sol, o calor e o querer, de ser abraçado por quem comigo faz meu peito cheio desse mar celeste refletindo as audaciosas caravanas sedentas, e encharcar as areias do coração aberto.
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  Os Fios de um Amanhã.   
E tecem as abelhas-demônios um tempo que ainda não vejo, sinto somente as correntes me enlaçando, e eu sendo toureiro de uma manada de búfalos, esses são corações jogados, e deitados rolam pelo tecido abaixo dos meus medos, essa manta negra que suponho existir toda bordada, mas na verdade, ela é uma ilusão de textos, feitos por mim dia a dia com cada palavra, que prometida ser perfeita, entram na aposta ameaçadas, e são elas os meus fios do amanhã, um caminho de tramas tecidas por milhões de pequenos anjos caídos, jogados e rolados em seu escurecido anonimato, tingindo o horizonte de negro, e eu deixando escorrer das minhas mãos as estrelas, e a magia se desfaz, aos poucos, e um dia inteiro, ao completo oposto do caminho das operárias, vão-se eles desfiando meus desejos, fazendo de meus sonhos cada vez mais caídos, costurando sem saber quando será a última agulhada, meus tecidos de gente na mortalha de um amanhã vagando os céus escuros, levando no ataúde dos vocábulos, o meu espírito, todos os dias um pouco mais, para admirar de antemão os chifres e as pegadas da tourada, falando do novelo ter eu ainda o fio, onde encontro escrito com as mesmas letras que me sepultam, o caminho inevitável do cortejo.
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  Hexagrama 44  
Eu vou viajar nos próximos dias, mas esses, poderão ser convertidos às imensuras do vocábulo tempo, e assim se perder para sempre numa desmedida que eu quero me caber, no fim, se houver algum, serei eu um pleno de meio, uma mutação contínua, um livro, como disse o oráculo a respeito de mim, de quando li e quando vi, e não acreditei, esse ano é o de ir atrás, de alguém que não posso encontrar senão pelo tanto dos momentos comigo, e só comigo, a vir.

Que cheguem, porque estou aqui.

E lá.
07:00