Para além.  
Eu matei minhas folhas rabiscadas, um tiro certeiro na tromba do elefante, um canivete cortou meus cadaços, e sem jangada eu andei pelo céu, de porto em porto.

Eu manterei minhas folhas rabiscadas.

Rascunhos não mais governam, a ditadura da ponte não mais vinga as margens, vive e viça os caneiros da seara, eu entornei o nanquim em folhas amassadas.

Para além, como se o projeto fosse um risco de fachadas, primeiro o emblema, segundo a escada, por fim um portal, e nele passei, onde encontrei algumas folhas pelo chão deixadas, um estouro de animais cortou meu caminho, eu encontrei o limite das letras, um passado tão vigoroso, sedento de um rio que não impede de ser transladado por meus olhos, enquanto sem porto, sem calçada, ele vai sozinho, mineirando em cada página, um novo disparo, um corte e um abraço, ah! laço e laçadas!

Pára.

Além.
19:14





A Monarquia do Coringa
Joguei as cartas de baralho em minha cama, e o vento que entrou pela janela abriu-me e também a caixa que as guardava, tirei o maço para com os Deuses jogar, e a Luxúria se fez baronesa de Copas, e disse-me no óbvio, que deveria ter me metido e metido dentro dos cofres protegidos contra os suspiro e as paisagens, onde com Espadas de Paus e Ouros me encontrasse o bobo da corte sem casa.

Perdi o jogo, o lençol e a graça.

Por abrir a janela e dizer aos céus que meus Ázes vão revoados e revelados no sopro, procurando o Valete de sonhos entre os divinos apostadores, entregando-me fora de meu reinado,exposto e deposto no meu Baronato de Corações, eu sem Rei, sem título, sem jogada.

Ah! Triste coroa de Coringas! Dama descartada.
16:05





  Poças em Tardes  
E vi no reflexo desses espelhos no chão, o dia se esvaindo, um azul acinzentado coloria o perfis visíveis e imaginados, um horizonte de sombras semi-escritas, semi-vividas, semi-aprensentadas. Uma sombra gentil apareceu dentro desta moldura, uma poça bem rasa, era uma menina, abriu os braços e saudou o céu cromado, eu vi quando ela sorriu, o azul me mostrou, sem que o cinza reclamasse.

Eu sou um adorador do crepúsculo, e o fim do dia parece gostar de mim.
20:45





  De Paz em Paz.  
E estou sorrindo, um tipo de pequena felicidade, a não cantada, só assobiada, uma paz pequena por ter prazeres em coisas que ninguém percebe, meu mundinho.

Recebi um email desesperado, cheio de xingamentos, esses últimos meses tem sido só de destruição, boa parte dos meus antigos amigos vão-se com uma velocidade assustadora, e eu nem me preocupo tanto, alguns somem no silêncio, outros se apartam em gritos de discórdia.

Falaram que eu estou decepcionado com o mundo, amargo e muito mau, hhehehehehe, o que fazer além de rir?

Ciúmes de mim porque eu consegui me desapegar e meus amigos não?

Ou inveja?

De um canto a outro, uma paz aqui e outra ali. Que posso eu esperar mais?
12:41





  Moinho de Vento  
Para que soprar os mesmos ares nos campos verdes de novas oportunidades? Por que voltar com todos os sonhos não realizados anteriormente por conta de outros sonhadores? As árvores não estão mais nos mesmos lugares, e também, existem cercanias mais interessantes. Por que soprar com o mesmo pulmão os diferentes moinhos? Que coração novo existe se eu tentar fazer dele uma renovada ilusão? Eu tenho tanto tempo para perder assim? Ou estou tentando recuperar algo para sempre perdido?

Há dúvidas maiores que as respostas e uma singularidade nos encontros, esse vasto caminho das forças faz moer as velhas e tristes experiências, para dar os ingredientes de outros suspiros, sejam eles dos mesmos sonhadores ou de nuvens recém nascidas.

Dá medo ter alguma fé nova, mas existem sementes dessas florestas em tantas plantações antes não permitidas, por que sofrer mais se o próprio esforço nos coloca em campos originais, calçando os caminhos para outros céus, nuvens e ventos, na direção de muitos moinhos que não mais fariam pó.

A questão fica imensa quando o abismo do desconhecido nos faz pender de angústia, mas basta um suspiro para que tudo se derrube dentro de outros sonhos verdes e iluminados.
11:20