Das Galerias.(parte V)
E eis que do outro lado da porta eu vi o significado da chave.

Deitaram em meu caminho muitas pessoas que não puderam ser ordenadas padres, ou feiticeiras, vi no subir de uma escada velha e corroída o altar de muitos desgraçados, tocando tristes suas histórias quando passavam os dedos de sua consciência nas harpas de seus arrependimentos, e o som era perturbador pelo convite silencioso à dança.

Mas eu fui, a cadência para mim era outra, nos confins dos meus ouvidos eu sentia o tambor dentro do meu peito, acompanhando dos violinos afiados que se diziam loucos, em cada nota cifrada desesperavam-se em um grito para que eu continuasse a caminhada.

O fogo azul do candeiro eu peguei com a mão, ainda subindo entre os cadáveres de tentativas, e tentadores eles pareciam precisar mais da minha celeste chama do que eu, e chamavam, sim com os olhos infernais de quem não tinha encontrado a chave, eu vi, e pelos olhos do tempo perdido eu passei.

Coloquei na lapela de meu paletó simples o fogo de quem cruza os lagos da mortificação, como deve ser a alma de quem tem a chave dos caminhos, eu me senti o céu. Fui tornando-me ele, e aos poucos eu abracei todas as rotas possíveis no mundo, e vi do alto os cinco castelos, a chave está em minha mão, e de cada janela, de cada torre, de cada fortaleza, todos os tristes deitados no caminho por onde passo, vêem por elas eu como um camaleão, colorido e disfarçado para não ser presa de suas invejas, usando o brilho da esperança para esquentar meu sangue, e o céu para voar distante e apaixonado.

No caminho ficou quem não sabe subir até onde qualquer coisa se torna azul.

Convidados por mim a não ser mais minhas galerias.
20:48

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O fecho das galerias é magistral, Gu! Vc impregnou de coerência e beleza o sofrimento deste rito de passagem, como afirmo ser a temporada nas galerias desde o princípio. A chave agora se abre no significado de que muitos jazem pelo caminho, pois a travessia exige o enfrentamento e o desmascaramento de muitas sandices cultuadas pelo ser. A escada no simbolismo alquímico, que norteou a iniciação, é exemplar no acesso ao além-azul, ápice da sua busca no recesso das galerias. A lamúria dos fracassados é triste e perturbadora, tão audível que a música e a dança insurgem, mas em cadências diferenciadas. A sua ressoa um gritante 'siga em frente' no tambor e violinos alucinados como a gravidade do instante atesta. Daí em diante intensifica-se o clímax e o sentido do percurso, pois o iniciado continua a subir a escada, de posse do 'fogo azul', a chave desejada pelos cadávares que se perderam no tentame. Os olhos que passeiam pelo tempo perdido são do iniciado que detém agora a celeste-chama-resposta, a'chave dos caminhos'. Que lindo! Sentir, tornar-se o céu e abraçar todas as rotas é a transmutação, enfim, operada nos imos do Ser. O reino quíntuplo castelar descortina ao iniciado possibilidades e oportunidades reluzentes na esperança que aquece o sangue e no céu para longos vôos de paixão. O iniciado se metamorfoseia em camaleão porque aprendeu a lidar e a se resguardar dos petardos da inveja alheia. Agora colorido e abençoado pela celeste proteção azul, pode o iniciado, meu Garoto Eólico, seguir nas empresas líricas, épicas e dramáticas que prometem mais chama, cor, romance e vida nos nossos humanos dias. Parabéns e obrigada! Eu me orgulho muito de vc! Beijos redrobados.

9:09 PM, dezembro 26, 2005  

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