Das Galerias.(parteII)  
Nos papéis em meio às asas encontrei a letra de uma criança, provavelmente uma menina, ainda não sei se entendi direito, agachei perante o monte, espalhei um pouco das folhas ao meu redor, a tocha iluminava um recinto científico, cheirando a ácidos e combustões cítricas, eu li nos papeis amarelados uma evocação de lembranças, enquanto seguia meus olhos por cada letra sentia como se um corpo de criança se formava a minha frente, e eu atendi ao chamado, fui com meu peito na impressão até o fundo e uma menina nasceu translúcida e nua diante de mim, era pequena como um jarro de plantas, e cheia de massas, ela tocou meu rosto com delicadeza, seus dedos azúis translúcidos acariciavam minha face, e ela mostou seus olhos e eram de um negro profundo, lá dentro uma galáxia parecia girar, seguiu-se seus lábios a abrirem devagar e disseram: "Não morra com tuas estrelas, muito menos só contemplando."

Então ela me soprou e uma verdade ventilou-se dentro de mim com a sutileza de uma estrela em movimento nós céus admirados, ainda que com a força de mil galáxias em viagem, assim vi a inocência seguir, distante, e morrer sozinha na contemplação de si mesma, sugerindo como um anjo falido que as bordas azúis de nossos diamantes-sonhos, desfazem-se como açúcares minúsculos no oceano escuro onde se dissolve qualquer constelação e meus tempos.


E fui, deixando o laboratório para trás, há uma porta com um "N" imenso como próxima possibilidade, devo por ela entrar?
16:13

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Como estou proibida de elogiar, atenho-me a um "coment" técnico e sem-graça, viu Lorde Gu?? Nos labores alquimícos a gestação do "homúnculo" no ovo alquímico geralmente enuncia a epifania de um mistério. Aqui a aparição da translúcida menina é também o avatar de uma revelação imperativa e categórica, pois determina vida estelar e social, o reverso da solidão e da inação. A graça soberana do sopro da verdade descortina o estertor solitário da inocência que, sem sentido, esvai-se como poeira dos tempos idos, fervidos e feridos. O tempo ceifa, mas também vivifica e constela novas estrelas, novas fontes, novos sonhos... Sonhos agora sedimentados e nutridos pela maturidade cambiante que pode serenizar e harmonizar os íntimos contrários. Prossiga a travessia, querido! Porta e insígnias são quase sempre marco iniciatório: um rito de passagem que leva o iniciado a transposição de um estágio inicial afligente para outro final de clarividência e entendimento. Uma labuta medeia os estágios, mas a iniciação só se dá para grandes espíritos, baby! Amo-te e também não sei quando isso começou... Beijos, sempre.

5:49 PM, novembro 24, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Deve entrar desde q o N signifique Nirvana e seja uma passagem para a felicidade...

11:32 AM, novembro 25, 2005  
Anonymous Anônimo said...

eu sorri.

3:47 AM, novembro 27, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Também me faço a mesma pergunta diante da mesma porta...

4:24 PM, novembro 27, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Entre na porta, mas antes tire os sapatos e as amarras da alma! Belo texto, blog primoroso, visceral... um deleite! Parabens!

12:32 PM, dezembro 01, 2005  

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