Meu Quinhão No Crime
Desrespeitar as impressões íntimas, alienar-se diante de certas convocações óbvias da sabedoria, julgar pela metade os inteiros ofertados, tudo isso é uma forma nada saudável de se proteger no otimismo desesperado de quem se desacradita capaz de ter o melhor.

Eu errei profundamente em permitir o avanço de certos mistérios, na pouca explicação, deixei minha tolerância perigosamente enriquecer uma experiência com ouro do meu próprio coração, idealizei.

Corrompido pelo meu medo, e nutrido pela esperança vinda da outra parte, eu confiei meus passos em meio ao lixo, cujo o caminho prometia mais e mais nojeiras, passei por riscos tremendos que ainda não terminei de avaliar, e agora acordo vacilando entre a piedade aguda e a ira tenebrosa, meu coração está doente, e descobri que foi essa minha pouca coragem de investigar.

Minhas memórias de tudo o que ocorreu é um presente pela metade também, só tenho a impressão boa das coisas que vivi porque eu tirei da minha própria carne para fazê-la assim, e quando a tenho, imediatamente vejo a sujeira sanguinolenta da obra masoquista.

Fui muito bobo, e isso é mortal para mim, porque eu não me envergonho de ser como um menino para as pessoas, mas é tão triste resguardar a sensação de ter sido negligente com os mínimos cuidados.

Disso tudo, aprendi que não se ama de qualquer maneira.
07:50

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sim, vc encerra o trecho e o dantesco episódio sabiamente: nenhum de nós pode amar de qualquer maneira! Errar profundamente é acidente de percurso na rota de qualquer um, meu belo! Nossos eleitos, às vezes, são incapazes de apreender o que ofertamos... E nós, qual juízo de valor emitimos sobre o que recebemos das pessoas? Poxa, quão intrincado pode ser o aprendizado e o exercício do amor nas suas múltiplas formas! Por favor, não diga que seu coração está doente, teu coração é o mais rubro, ativo e suave dos teus músculos! Acho que o diapasão crime-castigo não validam a situação para vc, pois conheço o ouro íntimo dos teus sentimentos e a torpeza/pobreza moral da contraparte. Reter e guardar o belo das singelezas do cotidiano é o que vc tem me ensinado, e eu, como boa aluna, insisto para que vc também o faça no que houver pra se guardar, ok? Não se veja mais como tolo, nem se envergonhe de nada: a natureza ambígua e reticente impõe, às vezes, acerbos amores para que aprendamos o melhor do amar e das formas. Abraço doido dessa sua amiga descompensada, porém leal!

1:02 AM, outubro 20, 2005  

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