Sem Próxima Vez
E Renata deparou-se com uma linda flor no canto da estrada, perguntou a si mesma se encontraria algo maior que aquilo, e imediatemente a resposta emudeceu-se na sanha de suas ainda vivas perseguições, o remorso de deixar para trás o que tanto lhe preenchia, culminou-se na pronta apresentação do egoísmo, um sentimento possessivo em tirar do tempo o seu poder definitivo de nos tirar de nós mesmos.

Para trás ficou a flor, enquanto dentro dela o tempo permitia-se encontrar para suas sementes, novas estradas.



Delicioso prazer de lembrar, e eu como menino entendo o sofrimento dos velhos, traídos pelo tempo deixando para longe nossos amores joviais, querendo resgatar a presença dos mesmos em cada gota de pensamento, ossos secos do passado cheio de gravuras para tentar ludibriar o esquecimento, nas ranhuras das forças que tentam tudo segurar no delicioso mundo do acontecente, eu descubro as rachaduras por onde escaparam nossos amados sofrimentos.



E assim nada perdura, para tudo existir.
01:13

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O que falar nessa hora?

Colher a flôr, tê-la por poucos momentos... ou mantê-la para que você possa observá-la para sempre?

Quer dizer... sempre? Será que existe o sempre?

Não sei... ainda estou diante da flôr, sem saber o que fazer. Ou... será que ja estou longe? Vai saber...

1:28 AM, outubro 11, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Que beleza! Cada vez mais sua prosa poética se depura levando-me a territórios extremos, ao desterro de paragens perdidas nos escaninhos da memória. Perfeita a figuração da temporalidade corrosiva que decompõe nossas ilusões, amores, ideais e tudo o mais. As mandíbulas de Cronos sentenciam que não há próxima vez, e deixamos para trás a flor, emblema da beleza e da efemeridade, para novas buscas germinativas que fermentam nossa íntima matéria. Todavia, a memória poética evoca e eterniza coisas e fatos, como os sofrimentos que amamos. Somos eternos no amor: frágeis, nebulosos, tartamudos, incansáveis. O prazer de lembrar impõe a presença e lança luz ao passado imerso na sombra do esquecimento, e a memória recolhe seletivamente e impõe a presença do que vale ser recordado e gravado nos ares suspensos da poesia.. Meu belo, que a deusa da memória, Mnemósine, continue te inspirando a desenterrar tesouros assim, afinal poetar é árduo trabalho de mineração. A chave final é apoteótica: o fundamento de existir é a movência do mundo. “Tudo flui, nada fica como é”, disse-nos Heráclito. Um abraço doido, doidinho e doidão, sempre!

11:41 PM, outubro 12, 2005  

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