Minha mãe e seus medos.
Eu encontrei uma linda garrafinha de cachaça, estava vazia, achei na rua, era de plástico, mas tão bonitinha que não consegui deixá-la virar mais uma das horríveis flores mordenas a se achar em beiras de rios ou encher canaletas por aí, assim, mais pela beleza do que pela utilidade eu a peguei e levei para casa, lavei e coloquei em minha mesa no quarto de estudo esperando mostrar para minha mãe, hehehehe, sim, eu já sabia que ela iria reagir à maneira que agiu, e foi no alvo, as caras e bocas, os resmungos, os alertar terríveis e eu claro, numa manhã nublada pronto para atacá-la.

Minha mãe tem medo de tudo, ela afirma o contrário, o medo mais recente é o do Diabo, figura essa que eu simplesmente não acredito existir, é claro que como todo crente ela vem e diz a célebre frase de que na descrença do homem mora a astúcia de Satanás, e eu, irritadíssimo com esse nível de ignorância esvazio-me num sarcasmo que a deixa muito mais irritada, hehehehehe.

Para minha mãe o Diabo é tão importante quanto Deus, só que ela não diz isso, sem ele o seu mundo seria de permissividades, insegurança e nada divino, pois é justamente seu espírito milicioso que a põe alegre para lidar com as coisas suaves da vida. Haja um só propósito para vislumbrar uma beleza, e ela se retira da inocência de ver o que é belo por si só, e ajuiza antes, se é ou não é uma coisa de Deus.

Meu coração diante disso cai um profunda desgraça, e só me salvo se eu chamar o contrário do maternal exemplo, e faço assim meus discursos satânicos, dando a ela o horror de um mundo que não cabe no seu.

Eu fico rindo por dentro,e de alguma maneira feliz pelo revanchismo, mas a verdade é que fico muito triste, e saio extremamente desgastado disso tudo, porque eu vejo alguém que amo sendo completamente endemoniada por vícios de covardia no atos de avaliação.

E ela não me escuta, não me dá ouvidos a não ser se eu disser que uma coisa é do demônio, de mim só há credibilidade se eu falar que algo ainda desconhecido para ela é algo do diabo, minhas palavras por mais próximas de algum pensamento bem embasado sempre se subcoloca aos do pastor e das velhinhas que fazem seu círculo familiar em Cristo.

Eu não odeio minha mãe, muito pelo contrário,e sinceramente nem os pastores ou a igreja evangélica que ela faz parte, até porque sempre me dou bem com eles, mas a verdade é que esse lugar é um bastião moral para cultivar receios e covardia,a tal proteção de Deus que eles tanto falam se submete aos seus juízos inocentes, todos eles procurando a sombra do demônio nas folgas da libertinagem em cada coisa que existe, não importa o quão simples seja.

Em outra instância tem a vergonhosa idolatria com seus desdobramentos anticristãos como a Adoração e a Intercessão, dois pontos que sou completamente contrário e que eles(esses seres apostólicos) não conseguem viver sem, pois o mundo o qual ganharam de Deus é um mar de horríveis pecados e grandes criminosos, pronto a ser destruído na Salvação quando apontar nos céus, enquanto isso miliciam-se, e vigorosos chamam de amor esse coração bélico contra todas as possibilidades onde haja um mínimo de sombras, seu jardins de infernos.
12:06

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pobre Satanás, anjo decaído que os homens insistem em clamar e aclamar! E a garrafinha, então, mero e inocente ornato! Quão saudável seria se pudéssemos dessacralizar nossos medos castradores da coragem, instigadores da fuga e da estreiteza de horizontes. Diz a psicanálise que na raiz coletiva do medo existencial residem os nós de muitas neuroses que ou desatamos ou reforçamos. Louvar o prestígio mágico das origens na figura da mãe é dever de todos nós, Garoto! Sei o quanto vc ama a sua, por isso a contesta, além do gostinho particular de barbarizar, é claro! Hehe Vivemos num mundo esfacelado no auge da atomização, onde o viés fictício da mística religiosa acena com a pseudo-salvação dos seus profitentes. O mito cristológico, Jesus Cristo, é o ápice da santificação da história, e a mística cristã tenta superar o abismo entre a divindade e os homens religando-os. Religião vem de “religar” e desde muito se diz que “a religião é o ópio do povo”. Hehehe Na velha dialética do bem e do mal, a luz ficou para a divindade e a sombra para o homem no repositório infindável dos pecados, manchas, quedas, etc etc A tradição judaico-cristã é uma filosofia voltada para o futuro, não para o presente. O homem para merecer a glória futura deve orar, penitenciar-se, não pecar, enfim, é uma cultura da morte. No fundo, por mais ambivalente seja, teu coração antibelicoso ama confrontar e insuflar a belicosidade das idéias, porém acaba por se entristecer, porque ele ama muito mais os jardins das delícias naturais e libertárias. Adorei o texto! Beijos, sempre.

11:27 PM, outubro 02, 2005  

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