Costas Roxas
Eu prometi dizer que o fim é esperado, fiz isso a um demônio que se sentava à beira do pontilhão, admirando o riacho passar, eu passei rápido por ele, tinha medo de ser perguntado sobre outras coisas, aquele olhar triste, suas costas roxas como o jamelão, encurvadas para baixo, mostrava seu coração em profunda tristeza, com vergonha de ver-me tão semelhante àquela figura, eu preferi seguir caminho sem dar-lhe a oportunidade de mais assunto, no entanto, enquanto cruzava sua estação de pensamento parei paralelamente, ele deixou-me invocado a lhe responder, e pelo brilho de suas lágrimas nos olhos eu falei: "Esse rio é rio pelo que escorre, mas nem tudo que vai é rio." Acho que dei a ele o paraíso de ver as coisas de outra forma, quanto a suas lágrimas, não vi se caíram, para levar comigo minha Resposta, eu não poderia reparar nisso.
09:37

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Este é um quadro que figura uma tristeza bela e crua, como, às vezes, sentimo-nos por dentro diante da vida. A descrição do demônio compunge o coração pelo sentar curvado, pelo roxo das costas, pelo abandono, pelas lágrimas... É como se o temido e destemido diabo tivesse chegado ao fim, fim predito. Do rápido e sutil diálogo ressoa o poder ambivalente das águas de levar embora ou de reter temporariamente o fluxo das coisas como, por exemplo, no represamento das lágrimas que retém emoções. Como lhe disse, aqui vc me lembrou a estrofe final do poema “A flor e a fonte” de Vicente de Carvalho que diz mais ou menos assim: “As correntezas da vida / e os restos do meu amor / Resvalam numa descida / como a da fonte e a da flor”. Bjs, sempre.

1:41 AM, outubro 13, 2005  

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